segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Do avesso

- Acorde!!!
Abrir os olhos, sentir que algo está errado, - ontem quando dormi tinha alguém do meu lado, mas, onde está? Será que foi sem me dar tchau? Espere um pouco... eu não estava na minha cama...estávamos abraçados e agora, estou só em minha cama? O que aconteceu? Deve ter ido embora, mais tarde eu ligo pra saber se está tudo bem.

Levantar ir ao banheiro! Ué minha escova de dentes não era rosa? Porque está verde? Não devo estar bem, deve ser fome!

Ir até a cozinha comer, minha mãe em casa? Não é sábado, é? Não, é quinta!

-Faltou hoje?
-Não!
- Vai trabalhar mais tarde?
-Não!
-Então...
- Não trabalho mais!
- Tá bom mãe...

Ligar pro Tato...

-"Este número de telefone não existe, favor consultar o catalogo telefónico...

Devo ter discado errado!
(Dez tentativas depois) Deixa pra lá, ligo na casa dele!

- Por favor o Tato!
- Quem gostaria?
-Alice
-De onde?
- A namorada dele!
-Impossível! A namorada do Tato chama Carolina!
-Carolina? Quem está falando?
-O pai dele!
-Só pode ser brincadeira, Luiz, sou eu a Alice!
-Desculpa moça, não conheço ninguém com esse nome, passar bem...

O que será que está acontecendo?

- Li, telefone!
- Quem é pai? - pai? como assim pai, meus pais não moram juntos desde muitos anos...
- O Júlio!

E desde quando o Júlio tem meu telefone, e meu pai aceita bem um telefonema pra mim? Pior o que meu pai está fazendo aqui? Primeiro meu sogro me aloprando, deixa eu conseguir falar com o Tato.

- E ai Júlio!
- Oi amor! Você está bem?
- Amor? Você tá falando do que, menino?
- Engraçadinha, a febre te deu aminesia?
- Acho que sim!

Começo a ficar assustada.

-Então vou refrescar a sua memória, nos conhecemos na Blood, e namoramos desde então. e já fazem mais ou menos uns três anos que eu te chamo de amor!
- Desculpa Júlio, você tá louco, te conheço a menos de três meses, você tá de gozação?
- Você deve ter tido uma convulsão...Vou até ai para irmos para o hospital...
-Tchau Júlio!
- Não desl...

Como foi que todo mundo conseguiu se juntar para me deixar louca...
Realmente acho que preciso espairecer, vou indo pra faculdade.
Indo, chegando, escadas, Heitor...
Smack
- O que foi isso...
- Isso o que? Você sempre gostou de um beijo...
- Como assim, você me beija assim todos os dias?
- Me falaram que você estava mal, mas não imaginei que fosse tanto...Lembra, estamos juntos desde o semestre passado...
- Não!
- Estamos sim! Quer dar pra trás agora? Aquele idiota do Júlio...
- Tá louco? eu e o Júlio...
- Eu sei, só aparência, eu sei que você é minha, mas as vezes eu tenho ciume.
-Tenho que ir pra casa!
-Vamos sair amanhã?
-Amanhã...

Como assim amanhã, se eu não consigo me encontrar no dia de hoje... O que aconteceu de errado. Dormi no peito do amor da minha vida, e acordei namorada de um menino, pervertida e amante de um amigo o qual eu admirava por tamanha loucura...

-Alice, se não queria me ver, porque veio até a minha faculdade?
-Hã?
- è, veio aqui pra que?
- Eu estudo aqui!
- Não você estuda em outro Campus, uns dois quarterões daqui!
- Não! Eu vou embora!
- Vai, mais eu sei que você me ama!

Amar, ou estou num pesadelo muito ruim, ou realmente a tal febre danificou meu cérebro... Mas e o Tato? Vou até o trabalho dele quando sair...

Continua...

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domingo, 20 de setembro de 2009

O Início



O céu estava coberto de uma densa camada de nuvens negras, todas as estrelas haviam se escondido,nem mesmo a lua desejava ser testemunha do que aconteceria àquela noite, que talvez entrasse para a história como a noite amaldiçoada.

Os raios cortavam os céus anunciando a grande tempestade que estava por vir, a muito os seres que habitavam aquelas terras não presenciavam nada parecido.

Muito longe da civilização era possível avistar uma velha cabana de madeira e telhado de palha, perecia abandonada, a não ser pelas luzes das velas que insistiam em permanecer acesas apesar da ventania e dos primeiro pingos de chuva que teimavam em atravessar o raro telhado que protegia aqueles que habitavam a casa: uma mulher que estava prestes a dar a luz, uma parteira que a ajudava e uma belo homem de olhar frio, que apenas observava tudo de longe.

A mulher estava banhada em suor e sangue, sua pele já muito branca, agora era pálida como a de um cadáver, de seus olhos verdes caiam grossas gotas de lágrima, estava muito cansada, já não tinha mais forças para lutar, sentia que a vida esvaia-se de seu corpo, mas daria a vida por seu filho, pelo único fruto de seu amor, que guardava em seu ventre. A parteira estava coberta pelo desespero, sabia que trazendo aquela criança ao mundo poderia destruir tudo e todos e tantas vezes exitou dentro de seu coração e implorou para que a mulher e a criança morressem aquela noite, assim não seria tomada de nenhum remorso, nem mesmo culpada por trazê-lo ao mundo. Depois de muitas tentativas em vão a parteira deixou o quarto ajoelhou-se próxima a uma vela, juntou as mão e começou a rezar, o homem aproximou-se um tanto inquieto.


- O que fazes aqui? Não vês que minha mulher esta morrendo naquele quarto e com ela meu filho! - os olhos do homem ganharam um brilho estranho, a mulher estremeceu.


- Lord Krane, vosso filho não quer nascer, não nada que eu possa fazer, a não ser rezar!


- Não fizeste todo o possível, senão meu filho estaria em meus braços nesse momento, volte para aquele quarto e só saia dele com meu filho vivo em teus braços.


- Senhor este pequeno anjo sente o mal que o espera, e Deus não está de acordo, por isso proíbe-o de vir a terra.


- O teu Deus nada tem haver com isso, este é um mundo que ele esqueceu a mercê dos homens, ele não interfere nas decisões aqui tomadas, da mesma forma que não interferimos no céu. - Krane segurou o braço da mulher com força - agora faça o que te mandei antes que eu realmente me enfureça.


A parteira retornou ao quarto, agora sob o olhar inquisidor de Lord Krane, que mantinha a mesma expressão fria, quando a mulher deu um grito de agonia muito forte, Krane adentrou ao quarto e no colo da parteira viu seu filho envolvido por um pano, e a mulher quase sem vida caída na cama, sem nenhuma reação, a respiração quase sumindo, ele aproximou-se da cama ajoelhou.


- Madeline, ele está vivo - Krane acariciou seus cabelos encaracolados, beijou-lhe a testa suada.


- Krane prometa-me - Madeline respirou fundo como se procurasse forças para falar - Áquila! - neste instante ela fechou os olhos e não emitiu mais nenhum som


Lord Krane beijou-lhe os lábios, enxugou uma lágrima, manchando o rosto de vermelho, tomou dos braços da parteira a criança, envolveu-a com sua capa aconchegando-o em seu colo. Dirigiu -se para fora da casa, onde o céu milagrosamente havia aberto e a lua tomado o seu lugar majestosa como uma verdadeira deusa, rodeada por sua pequenas e brilhantes suditas. Ele subiu em seu cavalo, deixando para trás aquele lugar, aquelas pessoas, Madeline, deixando seu passado e preparando-se para um futuro incerto, do qual ele tinha apenas uma certeza. A certeza que estava agora em seus braços, e ele tinha o dever de proteger, para que a profecia se cumpra.

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domingo, 13 de setembro de 2009

Epílogo

Existiram coisas!

Sim existiram, e hoje não mais existem, desapareceram com as luzes de um novo dia. Foram para não serem ultrapassados e perderem seu doce valor. Nem as vi sumirem, apenas aconteceu, e quando abri novamente meus olhos, não consegui me lembrar de sua forma ou de seu tamanho. Lembro apenas que existiram coisas...

Existiram pessoas!

Sim existiram, e ao seu lado caminhei, sua voz melódica ouvi soando agressiva com seus conselhos, e afetuosa com seu amor, senti seus abraços, seu calor e sua frieza, hora acariciavam-me hora era esbofeteado, provei seus beijos, doce no inicio e amargo ao fim, como um sonho que se fecha em pesadelo. Joguei seus jogos e perdi, fui seduzido e perdi, os encontrei e me perdi, e ao me perder, os perdi também! Quando olhei para os lados, me vi só, não lembro de seus rostos, ou suas vozes, sei apenas que existiram pessoas...

Existiram músicas!

Sim existiram, embalavam meus momentos tornando-os imortais, nasci com esse som, cresci com esse som, e espero morrer com esses som. Quantos sim, quantos não foram ouvidos junto a esse som. E sem mesmo uma prévia se calou, o silencio me cobriu, não as ouço, mas sei que existiram músicas...

Existiram sonhos!

Sim existiram...

E não existem mais!

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domingo, 6 de setembro de 2009

Pequena História de Amor?



Nuvens negras, começam a se aproximar, dando um tom cinza ao céu, logo todos os raios amarelos se vão, e um laranja queimado, toma todo horizonte! Em breve purpura e depois a escuridão absoluta.

Escuridão companheira, cúmplice, encobre meus erros, esconde meus pecados, protege de mim, minha maldita vida sem sentido.

O vento toca meu rosto com seu beijo suave e fatal, tal qual o beijo de Judas, antes de entregar o Cristo.

- Droga! Uma gota de chuva, ou seria uma lágrima? Mas quem lamentaria por mim? O sol já me abandonara! Talvez a lua? Mas nem seu pálido rosto havia mostrado ainda... Resta quem?

- Deus? – uma leve risada – Apenas chuva! A molhar meus cabelos, meu rosto, meu corpo – levanta-se e começa a correr.

- Bem, até que não demorou muito a passar; diz jogando os cabelos molhados para traz, tira os óculos e enxuga as lentes – hoje nem a chuva é demorada! Beijos, abraços, o dia, a noite, o sexo, tudo é rápido demais.


Lembro-me dos meus 16 anos! – coloca o bloco de anotações no bolso, acende um cigarro e recomeça a caminhar – Tudo era demorado, o que nós chamamos de semanas, eram meus dias. Meu primeiro beijo aos 16 anos (até a idade com que se começava era demorada), demorou cerca de 10 minutos.

Ah ... seu rostinho! Suas sardas, o cabelo ruivo trançado, os belos olhos verdes...

Eunice! A conheci em um parque de diversões...


- Hei, já ouviu Gex Sistols – perguntou ela, mascando seu chiclete e enrolando as pontas do cabelo nos dedos.

-Já! – disse eu quase engasgando de tão nervoso que eu estava – Eu devo ter uns dois discos (até o nome era mais demorado).

- Surgiu uma banda em Brasília que se inspirou neles! – ela soltou o cabelo e começou a puxar a ponta do chiclete e depois a colocava de volta na boca.

- Eu conheço! Conheço todas as músicas deles, poxa! As ideias daquele cara são extremamente incríveis.

- Também acho, sem contar a voz! Ele é perfeito, até os óculos são perfeitos. – Eu tirei e coloquei os meus óculos na esperança de fazê-la perceber que eu também os usava.

- Sei lá, talvez, poderíamos marcar em minha casa, pra você ouvir os discos que eu tenho...


Até as desculpas eram demoradas! Perceba a diferença!

- Talvez, se você quiser, poderíamos marcar um dia para que você fosse em minha casa, pra eu te mostrar os meus discos...

- Vamos até ali???


Notou!!!


Duas semanas depois, a campainha tocou, e quando abri a porta, me deparei com uma imensa bola de chiclete, e por trás dela, Eunice!


- Você tem algum disco do Bad Seffeskin? – perguntou invadindo a minha casa.
- Não, mas tenho dos The Splits e do Poors – trancando a porta – Venha! Estão no meu quarto!

- Seu quarto? – ela me olhou assustada – Não posso ir lá, o que vão pensar de mim?

- Ué! Nada! Ninguém vai saber.

- Cadê seus pais?

- Foram ao super mercado!

- Vamos logo! – ela pegou minha mão e subiu as escadas correndo, eu abri a porta e Eunice adentrou meu mundo.


Aproximou-se da minha vitrola, colocou um disco dos poors, eu sentei em minha cama e comeceia observa-la. A menina caminhou por todo o quarto até achar um livro de poesias.


- Porque você não escreve suas próprias poesias? – disse abrindo o livro , folheou as paginas, olhou-me nos olhos – Escreva pra mim!


Eu gaguejei


- Escrever o que?

- Um livro oras, escreva um e dedique para mim, fale de mim nos poemas, fale da nossa tarde! – sorriu trocando o disco dos Poors pelo dos Splits.

- Vou escrever o que? Escrever que passamos a tarde em meu quarto ouvindo meus disco? – deitei-me de costas na cama, ela por sua vez deitou ao meu lado e ficou olhando para o teto.

- Escreva sobre isso! – ela apoiou-se nos cotovelos e beijou-me.


Doce como o mel

Delicada como uma flor

Quente como o sol

Aquecendo todo o meu gélido corpo.


- Eunice! Eunice! Como gritei seu nome após isso, como a desejei, como quis tocar seu corpo, acariciar sua pele. Todos os meus sonhos tinham o rosto de Eunice!

Mas depois daquele dia, nem seu nome eu ouvi mais. Toas as vezes que meu telefone tocava (e demorava muito a tocar) eu esperava ouvir a voz dela. Mas foi em vão, acho que até hoje espero...


Ela se foi e nada deixou

Um beijo talvez

Um abraço e nada mais

Um anjo e se foi

Deixou-me triste

Contando sombras

Ouvindo vozes

Ficando Louco...

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