segunda-feira, 20 de junho de 2011

Psicologo da praça

- Louco!
Sim, é o título que recebo, não, eu não me auto intitulo assim, na verdade acho que pessoas com a visão um tanto turva, assim me diagnosticaram...
Mas não estranho, afinal, sempre recebi denominações parecidas!
Algo do tipo, estranho, esquisito, diferente, excêntrico, anormal! Sempre fui apontado e olhado de rabo de olho, por outras pessoas na rua, talvez minha aparência não seja das melhores, é claro, não sou nenhum modelo de beleza, mas também não sou nenhuma aberração, só não me encaixo na sociedade padrão, as vezes, mas só as vezes, me olho no espelho e sou capaz de me achar menos feio do que dizem...
Também não tenho um jeito lá muito comum pra me vestir, já ouvi dizer que era démodê, e até mesmo anormal, acho isso um absurdo, super homem usa cueca por cima das calças e ainda assim, é um herói, e no final, sempre fica com a Louis Lane...
Também reconheço meus hábitos peculiares e minhas manias, mas afinal quem não as tem?
Agora sou julgado por tirar o gergelim do pão sanduíche? Ou as sementinhas prestas do morango? Poxa todos tiram as suas sementes, porque eu tenho que comer essas coisas com sementes?
Julgado por não gostar de atravessar a rua fora da faixa de pedestres? E não querer pisar na parte de asfalto e sim na pintada?
Julgado por misturar o shampoo e o condicionador na coqueteleira antes de tomar banho?
Me criticam por dormir pouco, mas sei que se dormisse muito me criticariam também!
Sim eu sei que dormir as quatro da manhã, quando a maioria das pessoas acordam as quatro, não é bom, mas fazer o que, sei que as sete vou estar de pé, se eu dormir mais cedo, o estrago será muito maior!
Mas meu maior problema, o que nunca vai se resolver, e o que faz com que eu seja diagnosticado louco, é não saber lidar com o ser humano!!!
Não entendo porque diabos, as pessoas nunca dizem o que realmente querem dizer!
Sempre acham que você é capaz de adivinhar e entender o que elas querem, e se vc não o faz ou interpreta errado, ficam furiosas com você!
Se te pedem pra ser sincero e você é, te chamam de grosso!
Se mente é mentiroso e é punido, mas se diz a verdade vira um monstro e também é punido!
Se você é altruísta tem milhões a sua volta, mas se em um momento de dor, você é egoísta, que seja por um minuto, todos te viram as costas, sendo ainda mais egoístas com você, que talvez só estivesse precisando de um abraço!
Já me perguntaram muitas vezes sobre amizade, e sempre respondo, não consigo entender esse tipo de relação, eu tenho um amigo, que te um amigo, que também tem um amigo, como posso confiar em alguém, sabendo que ele também confia em alguém, que confia em alguém....
Sobre amor então, acho a mais confusa das relações humanas, principalmente, porque somente os bons e bonitos são amados, e como geralmente não me encaixo em nenhuma dessas qualificações, fico excluído de tal grupo!
O que sei sobre o amor, é muito técnico, e talvez não consiga me expressar direito, como disse não compreendo, não entendo como uma pessoa é capaz de venerar e por que não dizer cultuar de maneira tão intensa, um outro ser, que de especial nada tem! Como pode entender as falhas e aceitá-las, e até mesmo se privar de coisas pra fazer outro feliz, como alguém pode entregar seu corpo e sua alma a outra pessoa, que certamente, além de fazer você trair os seu princípios, vai te machucar!
Ninguém nunca parou pra pensar que amar traz mais malefícios do que benefícios?
É definitivamente, isso aí não é pra mim!!!

- Senhor, chegamos!
- Muito obrigado, quanto lhe devo?
- São $32, senhor!
- Muito obrigado!

O taxista deu partida no velho carro amarelo, enquanto o homem alto e curvo caminhava em direção a um enorme prédio antigo, o dono do carro, pode ver ainda o rosto corado do homem ao cumprimentar uma jovem moça que passava na rua...

domingo, 5 de junho de 2011

O Vampiro

Tinha a mesa cheia de recortes e fotografias, conseguira bastante material, aquele dia tinha sido realmente produtivo.
Buscou uma fotografia embaixo de alguns papeis, ela sorria, perdeu as contas de quantas vezes imaginou que aquele sorriso era dado somente à ele.
Já havia encontrado padrão para alguns dias, mas isso não era o suficiente, não podia se aproximar, enquanto não mapeasse toda a sua rotina, precisava conhecer todos os seus hábitos e por que não dizer, que precisava pensar como ela!
Tirou os óculos esfregando os olhos cansados, tinha apenas algumas horas para dormir, o dia dela começava cedo.
Lembrou-se da primeira vez que a viu:
Era madrugada, ele acabara de sair do hotel onde deixara sua ultima presa, ela saia de uma casa noturna, seus olhos se cruzaram por uma fração de segundo.
naquele instante ele sentiu seu corpo em chamas:

- É ela!

Sim ela tinha que ser a próxima!
Pegou seu carro e deu a sorte de encontra-la por perto. Dai por diante apenas colocou em pratica o que sabia fazer muito bem!
Primeiro passo, verificar se ela possuía algumas familia próxima, e mais uma vez para sua sorte, ela vivia com alguns amigos de faculdade em um apartamento na Bela Vista.

- Sem regras, sem perigo!

Começou a segui-la na manhã de segunda feira, sua rotina matinal e vespertina, eram bem simples:
Tomava café em uma padaria próxima a faculdade, por volta das 7:30h e entrava para a aula as 8:00h, às segundas e quartas ela saia dos campus por volta de 10:30h tomava um mate e voltava as 10:45h, geralmente acompanhada de uma jovem de cabelos curtos. Nos demais dias, ela deixava o campus somente as 12:00h, para em um restaurante com um pequeno grupo de amigos, ficava lá até 12:20h, depois seguia sozinha a pé para um prédio na Praça da República, cada dia da semana escolhia um caminho, mas sempre eram os mesmos toda semana! saía do grande prédio espelhado em torno de 20:10h a aí começavam os problemas, ela nunca fazia a mesma coisa, dia voltava pra casa, outro ia pro bar, cinema, teatro, shopping, casa noturna, ou apenas ficava na praça com um grupo de pessoas, mas não existia um padrão!
Isso começava a ser enlouquecedor, quando achava que sabia tudo o que precisava, ela apresentava um novo elemento.
Chegou a passar um sábado inteiro numa gibiteca observando-a, anotando o título de cada revista que passava por sua mão, e um domingo fazendo um circuito verde, seguindo-a por quase todos os parques e praças de São Paulo!
Algumas vezes perguntou-se se ela realmente valeria a pena? Se o seu sabor seria melhor que o das outras e sempre terminava concluindo, que ela era a melhor! Isso o deixava ainda mais ansioso para a caçada!

Enfim dera a pesquisa por terminada, estava satisfeito com o que tinha e aquela seria a ultima noite e tocaia.
depois de muitas horas na danceteria, ela finalmente entrou no táxi, seguia-a de perto com seu carro, queria ter certeza de que seu destino final seria o pequeno apartamento na Bela Vista.

-Bingo!

Exatamente como fez as noites de sexta nas duas ultimas semanas.
Desceu do carro para melhor ver a janela do quanto dela, que agora estava acesa. Tirou do bolso interno da jaqueta uma carteira de cigarros, puxou um com as pontas dos dedos,levou-o aos lábios e o acendeu, tragou e soltou a fumaça lentamente, tinha os olhos fixos na janela iluminada, podia passar horas ali apenas observando cada sombra.
A luz se apagou imediato ao fim do cigarro, ele sorriu atirou bituca na rua, lançou um ultimo olhar ao quarto:

- Boa Noite, meu anjo, nos vemos amanhã!

Adentrou o carro e dirigiu até sua casa, que ficava a alguns quilômetros dali, parou o carro frente a portaria de um prédio antigo, acenou com a cabeça para o porteiro que retribuiu o gesto dando-lhe "boa noite"!
Parou o carro em sua vaga no estacionamento subsolo do prédio, um lugar escuro, sombrio, até mesmo fétido, caminhou sem pressa até o velho elevador, abriu a pesada porta de madeira, apertou o botão, sétimo andar!
Frente a porta do apartamento, tirou as chaves do bolso, colocou-a na fechadura enferrujada, girou a maçaneta, a porta abriu rangendo, ele riu...

- Mais um clichê de filme de terror, agora só falta o gato sair do armário miando!

Abriu a geladeira, pegou uma cerveja, depois de uma demorado gole, foi para a mesa onde passaria a noite, revendo cada detalhe, não poderia falhar, essa, como em todas as outras, a oportunidade era única, nunca tinha uma segunda, uma vez revelado, ele precisava ir até o fim!
Viu o sol nascer por entre os prédios, levantou, era hora de finalmente dar continuidade a seu trabalho!
Frente ao espelho, mais uma vez!
Passou os dedos pelos cabelos molhados jogando-os para traz, a barba por fazer, óculos, jeans desbotado e rasgado, jaqueta de couro e pra finalizar, o crucifixo no peito!
Não que acreditasse no símbolo, muito pelo contrario, aquilo não lhe dizia absolutamente nada, mas a peça ajudava a compor o visual e em um tempo onde uma imagens vale mais que mil palavras, qualquer detalhe faz a diferença...
Caminhou até o carro, desarmou o alarme, abriu a porta, sentou-se, respirou fundo, girou a chave no contato...

- Pronta ou não, aí vou eu!!!

(...continua...)