sábado, 9 de julho de 2011

O Pacto

Uma vez me disseram:
- "Encontra-se o amor nos lugares mais inusitados!"
E eu por minha vez, sempre duvidei e até mesmo desdenhei de tal afirmação!
Afinal no mundo de hoje, amor, é uma espécie em extinção, isso se não for apenas uma lenda, um conto de da carochinha!!!
Amor, nada mais é, que uma coisa que na verdade, nunca ninguém sentiu, pois ninguém sabe explicar, ou definir, e sempre que tentam se divergem tanto que fica difícil de acreditar na veracidade de tal sentimento!
Você pode dizer: "Ah, é um sentimento! cada um o sente de maneira diferente!"
E eu até concordaria, se não fosse o simples fato de que ódio, tristeza, alegria, medo, contentamento, eles todos são sentimentos e todo que os sentem, os relatam com um centro padrão, então porque só o amor tem que ser diferente?
O amor na pratica, não serve pra nada!
Talvez, no fim do século XVIII, inicio do XIX, fosse uma arma letal!
Pensem em quantas mulheres morreram literalmente de "amor", após terem passado pelas mãos de Don Juan?
Existia um mal do século e ele se chamava "amor"!
Acho inclusive, que podemos definir amor como um suculento veneno!
Você o vê, você o quer, você o prova, você morre!
Logo para evitar mais finais desastrosos, alguém aprisionou o amor, e espero que o mantenham assim por muito tempo!

Ela sorriu satisfeita com o próprio artigo, recém publicado no jornal daquela manhã, ergueu sua caneca!

- Um brinde à clausura de Eros!

Deu um demorado gole em seu chá.
Quando abaixou a caneca, assustou-se com a estranha figura que acenava para ela, deixando a caneca tombar, derrubando o chá no jornal e a caneca no chão, fazendo-a em mil pedaços.

- Quem é você? Quem te deixou entrar? O que você está fazendo aqui?

O estranho sorriu docemente, olhando-a com ternura.

- Imaginei que precisaria responder algumas perguntas, mas não assim, ao mesmo tempo!
- Olha aqui, esse lugar é uma propriedade particular, hein, vou processá-lo por invasão - disse ela exaltada, apontando o dedo em direção ao nariz do sujeito, que mais uma vez sorriu ternamente, tocando de forma delicada e carinhosa sua mão, fazendo com que ela a abaixasse!
- Por que tanta agressividade? O que exatamente eu lhe fiz?
- Ei, sou eu quem faz as perguntas! Você invade minha casa, e ainda quer perguntar? Quem você pensa que é? Melhor! Quem diabos você é?
- Hmmm! Diabo? Não! Pense no contrário!
- Ah, agora vai dizer que é Deus? - disse ainda mais exaltada
- Deus? O que você entende por deus???
- Você sabe! Deus do céu, o todo poderoso!
- Não, isso não! Isso não existe! Olha, pra alguém tão cética, t^te achando crente demais - disse em tom de sarcasmo.

Ela deu uma gargalhada ainda mais revoltada

- Olha aqui, coisinha, ou você me fala o que ou quem é você, ou eu chamo a policia!
- Eros, ao seu dispor! - fez uma breve reverencia

ela fitou-o séria, por um segundo, mas não se conteve, explodindo em uma gargalhada, riu até seus olhos lacrimejarem, até perder o fôlego. O estranho apenas a observava pacientemente.

- Eros - riu - o deu do amor? Aquele anjinho fofo de fraldas, arco e flecha? O símbolo máximo da propaganda no dia dos namorados?
- Sim Eros! E foi atribuído a mim muito nomes e imagens com o passar do tempo, mas como qualquer deus, eu posso utilizar a imagens que quiser, hoje preferi uma que não te causasse muita estranheza, não posso aparecer pra você em meu esplendor e glória!
- Ta, você jura que acredita que é Eros? Eros, filho de Afrodite e Zeus?
- Filho de Afrodite sim, já a identidade de meu pai, ela sempre manteve em sigilo, acredito que por conta dos problemas que teve com o meu irmão Hermafrodito, mas isso nunca me fez falta não, amor paterno nunca me faltou lá no Olimpo!- diz pensativo
- Desculpa, isso é demais pra mim! - disse indignada - me aparece um louco aqui, que jura pra mim que é Eros e pior ainda, ta insinuando que o amor, nasceu de uma traição!
- Ei, foi você quem começou - em tom acusador - Diz que eu não existo, que se existisse, eu ficaria melhor preso, e ainda acusa minha mãe de incesto, quando afirma que Zeus é meu pai!

Por um instante ambos ficam em silencio, ele de cabeça baixa, visivelmente transtornado, ela, completamente indignada, e só estava calada por não lhe vir mais nada que pudesse cutucá-lo a mente!

- Tá, você é Eros, né? - diz zombando - Me prova então! Mostre-se em todo o seu esplendor e glória! - em tom desafiador.
- Não posso! Você sabe o que aconteceu com a ultima que pediu isso a um deus? Você sabe o que aconteceu com Sêmele? Não, não sabe, claro que não sabe! Ela virou pó! E meu tio, Zeus, coitado, teve que gerar meu primo Dioniso em sua coxa! - disse completamente exaltado.
- Mas ponha-se no meu lugar! Como posso acreditar em você? Como vou saber que você não é apenas um lunático, bitolado em mitologia grega, que veio aqui só pra tirar um sarro com a minha cara?

Ele levantou lentamente a cabeça, olhou-a nos olhos, sorriu, um sorriso singelo, levantou-se e disse:

- Podemos fazer um trato!
- Um trato? O que você quer? - disse afastando-se dele.
- Você nunca amou, posso sentir em você o vazio que só existe em uma pessoa que nunca experimentou de meu doce nectar... -antes que ele pudesse terminar ela o interrompeu.
- Não me venha com essa, não vou dormir com você, seu tarado!!!
- Quem disse isso? Acho que a lunática aqui é você!!!
- Olha aqui seu...seu...seu Eros, assim não vamos a lu...- ele a interrompeu também.
- Me ouça! Posso mostrar o amor a você! Você vai conhecê-lo, vai senti-lo, vai entender enfim, o que é o amor! Mas farei isso ao meu modo! Dizem que o amor é cego, sim é cego, porque amor nada tem a ver com imagem e sim com sentimento! Eu vou cegar você, antes que você se desespere, vou explicar, você terá sua visão, mas será incapaz de ver beleza em qualquer pessoa, todas serão iguais, você não saberá quem é quem, mas vou aguçar seus sentidos, você saberá quando realmente for amor!
- Tudo bem! Aceito! E como selamos nosso trato?
- Com saliva! - disse com um sorriso maroto...
- Ah eu sabia, você é um tar...- novamente a interrompeu!
- Você não tem mesmo senso de humor!

Ele estendeu a mão, ela a apertou!

- Está feito! - disse o homem desaparecendo em seguida.