quarta-feira, 27 de novembro de 2013

E além...

"Encontra-se amor, onde e quando menos se espera!"
Ouvi isso minha vida inteira, apesar de não concordar exatamente com essa afirmação, sonhava e sinceramente esperava que algo desse tipo acontecesse comigo, porém nada acontece como queremos, acontece como ter que acontecer, alguns diriam Maktub, outros chamariam de coincidência, eu, chamo de vida

Tinha apenas 15 anos quando descobri minha gravidez.
-  10 semanas! - disse o médico passando sobre minha barriga o gelado aparelho de ultrassom.
Imediatamente lagrimas correram por meu rosto, um misto de emoções tomaram conta de mim, não tinha idéia do que fazer.
Tinha tantos sonhos, tantos planos e agora precisaria desistir de tudo, por esse ser que crescia em meu ventre, afinal não tinha mais ninguém além dele.
Meu namorado havia me abandonado umas semana antes da descoberta, havia inclusive deixado o país, não resistiu a um convite do pai para estudar em Nova Iorque, sequer pensou, arrumou as malas e foi-se, não sabia nem como encontrá-lo e a minha mãe seria tão omissa com o neto como foi comigo.

Alguns dias passaram até que eu pudesse enfim organizar as minhas idéias e tomar algumas decisões importantes, e a mais importante delas talvez, seria que aconteça o que acontecer, teria meu filho, mas enquanto pudesse, daria sequencia a minha vida.

Tinha os sonho de ser pianista e naquele fim de semana iria a um workshop apenas para estudantes de música, tentou escondi a cara de choro por trás da maquiagem, juntei algumas partituras, livros e caderno de anotações e segui rumo ao meu compromisso, não que fosse me servir na nova vida que eu teria, mas precisava de um ponto de fuga.

O trajeto até o hotel não fora muito longo, logo estava em frente ao Holliday In, me dirigi até a entrada, onde um monitor me indicou o caminho até a sala de conferencias, para onde fui imediatamente.
Na entrada da sala, esbarrei com um rapaz, que voltou-se para mim sorrindo, o sorriso mais lindo que já vira em toda a minha vida, nossos olhos se encontraram e por um instante senti meu rosto ruborizar.
Afastando-se ele pediu desculpas, apenas sorri, e segui para o meu lugar, porém meus olhos não saíram do belo rapaz, e os dele, vez ou outra buscavam também por mim.
Tinha plena consciência de que não poderia seguir adiante com o flerte, mas naquele momento precisava daquilo.

Ao fim da palestra, ele caminhou apressadamente para fora, segui-o com os olhos, e quando o perdi, um estranho vazio tomou conta de mim. Organizei meu material calmamente, sendo uma das ultimas a abandonar o local, e para a minha surpresa, encostado em uma parede estava ele, a minha espera.

- Tu demorou tanto, que achei que não sairia mais. - sorriu novamente, vindo em minha direção.
- Estava evitando a multidão - sorri sem jeito.
- Hoje não tenho muito tempo, mas se tu não se importar, podíamos trocar telefones e, bem, marcarmos um suco, ou algo assim. - olhei-o completamente descrente, e de tão descrente, aceitei sem hesitar.
Não imaginava o que um rapaz como aquele, queria com uma menina como eu, certamente nada, e certamente nem iria ligar, mas aquele momento já me valia do dia, semana, mês...e do jeito que eu me sentia, talvez me valeria a vida.

Alguns dias se passaram e apesar de não tirar os olhos do meu celular, eu nem tive coragem de olhar para o número de telefone que ele me passara, tamanho era o medo de ser um número falso, e não pretendia ter nenhuma decepção naqueles dias, já que se aproximava o dia dos namorados e sabia que estaria mais sensível do que de costume, sozinha, gravida, deprimida.
Minha barriga já começava a aparecer, e conversando com uma professora do curso, consegui tocar em um banda, dessas que tocam em casamentos, não era muito rentável, mas já era alguma coisa. Iniciei também meu pré-natal, sabia que meu bebê crescia forte e saudável, o que me deixava mais tranquila. E apesar de pensar algumas vezes no rapaz, não voltei a vê-lo.

O dia dos namorados veio como o prometido, cheio de propagandas românticas, corações por todos os lados, flores, embrulhos e tudo mais que poderia deixar alguém na minha situação ainda mais deprimida. Me fechei em meu quarto, onde nada daquele dia cheio de amor pudesse me machucar, tinha minha cama, meu travesseiro e meu filho como companheiros, eles não se importariam de me ver chorar.
Já era era  fim da tarde quando vi as luzes de meu celular piscarem, peguei-o meio sem vontade, ao ver o número não notei nenhuma familiaridade, só mesmo percebi quem se tratava, quando ouvi sua voz.
- Feliz dia dos namorados! - gritava ele, empolgado. Imediatamente um sorriso brotou em meus rosto.
- Feliz dia dos namorados! - respondi com a voz meio exitante.
- O que aconteceu contigo que não me ligou?
- Sabe que eu poderia perguntar a mesma coisa a você? - ele riu.
- Tu não vai acreditar, mas viajei com meu pai e esqueci teu numero na minha mochila, mas não esqueci o celular, e tu? Por que não me ligou? - um silêncio constrangedor, mais uma vez ele riu - Certo, vamos deixar as coisas assim então. Mas tu tem que me prometer que irá me ligar. Amanhã tu me liga sem falta, e revezamos, tá?
Concordei, embora não soubesse exatamente como dar continuidade aquilo, com o passar dos dias, seria impossível esconder a gravidez, e todos sabem que ninguém deseja carregar uma bagagem que não lhe pertence, principalmente um jovem burguês.

Mesmo contrariando a minha razão, liguei para ele, e assim com fizemos todos os dias, durante meses, por mais difícil que fosse meu dia, sempre conseguia um tempo para ligar ou para receber uma ligação dele. Não conseguia mais ficar sem ouvi-lo, apenas o som da voz dele me trazia uma alegria imensa.

Logo minha barriga ficou enorme a data do parto aproxima-se, descobri em uma de minhas consultas que meu bebê, era um menino.
Melhor assim, meninos não sofrem, não passam por um terço do que as meninas passam...
Na mesma época, recebi uma bolsa de estudos para um conservatório musical, no sul do pais, sei que qualquer adolescente da minha idade e na minha situação, negaria, mas eu, eu queria fugir, desaparecer, e essa me soou como a oportunidade que me faltava.
Conversei com minha mãe, que aceitou usar parte da herança do meu pai para alugar uma casa e custear minha estada em outra cidade, enquanto durasse meus estudos.

Na noite em que me preparava para a mudança, recebi o costumeiro telefone do meu "amor platônico", onde feliz da vida, ele anunciava o inicio de um namoro. Mais uma vez, senti meu mundo desabar, não que eu não soubesse dessa possibilidade, mas eu não queria acreditar na veracidade dela. E como não tinha absolutamente nada a perder, em algumas horas nem mais na mesma cidade eu estaria, desabafei!

- Qual é o seu problema? -disse completamente indignada- Ainda bem que não fiz nenhuma bobagem, que não me dei ao trabalho de ir até você! Você é volúvel! Não sabe o que é gostar de alguém! Agora garoto, perde meu número, me esquece, porque é isso que eu vou fazer!

Ouvi uma risada, e senti meu sangue ferver, estava com tanta raiva que minha cabeça parecia que ia explodir. Como se ele pudesse ler meus pensamentos, se antecipou dizendo.
-Não desliga, eu ainda não terminei! - mesmo querendo desligar, tomada por um ódio sem fim, o meu sentimento falava mais alto, fiquei em silêncio, pois havia um nó na minha garganta me impedindo de falar. - Por que você não me disse isso antes? Quanto tempo faz que nos conhecemos e nos falamos todos os dias? Você nunca imaginou que eu te ligava por algum motivo? Nunca passou por sua cabeça que eu poderia estar apaixonado por você?
As lagrimas correram pelo meu rosto, respirei fundo e tudo que ouvi do outro lado foi a respiração dele.
-Eu não podia. -disse com a voz fraca.
-Por que não? Você sempre me disse que estava sozinha!
-Não exatamente.
-Existe alguém, outro cara né?
-Existe sim outro cara. - ouvi um suspiro do outro lado - Mas não é isso que você está pensando não, eu - parei subitamente, tomando coragem- eu tô gravida. Ele nasce em questão de semanas...por isso não quis te encontrar nenhuma vez durante esse tempo que nos falamos, tive medo que você se afastasse, como todos fizeram...Mas agora nem importa, você já tem alguém, e espero que você seja feliz, viu?
-Preciso saber de uma coisa antes de você desligar.
-O que?
-Você sente o mesmo por mim?
-Do que adianta falar sobre isso agora...hoje cada um segue numa direção.
-Só me responde, por favor!- senti meu coração disparar, mas não tinha mais nada a perder.
-Acho que sim, e desde a primeira vez, sinto que preciso estar com você, na verdade a unica felicidade que tenho tido é falar com você. Meu coração só se acalma quando ouve a sua voz. Eu sei que estou apaixonada, mas também sei que é impossível!
-Me dá teu endereço, tô indo praí!
-Não adianta mais, eu estou de partida, vou estudar musica em outro estado, e sabe, é melhor assim. Você segue, eu sigo, e ta tudo certo.
-Não, não ta tudo certo! Eu não quero te ver  partir, essas coisas não acontecem duas vezes na vida, e eu não vou perder você!
-E sua namorada?
-Ela vai ter que entender, que eu quero e vou ficar com você.

A linha caiu, e eu não pude falar mais nada, mas tinha meu coração aos pulos, como se quisesse sair do meu peito, porém, apesar de tudo que ouvi, não conseguia acreditar em absolutamente nada, como se meu coração estivesse pregando uma peça na minha cabeça.

Ao contrario do que eu esperava, ele não veio bater em minha porta, nem mesmo ligou outra vez, na manhã seguinte, minha mãe me levou ao aeroporto, onde embarquei no voo das nove horas, e até o ultimo segundo esperei que ele surgisse, como naquelas comédias românticas, parasse o avião, e me pedisse pra ficar, mas isso não aconteceu.
Horas depois estava eu em minha nova cidade, organizando em meu quarto o pouco que eu tinha, pensando em como seria minha vida a partir dali, já que em um pouco mais de uma semana, teria em meus braços alguém que dependia exclusivamente de mim.
O cansaço da viagem e a noite anterior que havia sido bastante conturbada, fizeram com que eu adormecesse no meio da tarde, a intenção era ler e acabei dormindo profundamente.

Acordei assustada ouvindo batidas insistentes na porta, me espreguicei e levantei com uma certa dificuldade, devido ao tamanho da barriga, caminhei sonolenta até a porta, e com os olhos ainda meio fechado, a abri, demorei alguns segundos pra aceitar a imagem que meus olhos me mostravam, na verdade, achei que estava sonhando. O belo jovem, de sorriso encantador, com quem eu passara os últimos 8 meses falando, mas que não o via desde nosso único encontro, estava ali, parado, sorrindo para mim. Fiquei paralisada, não sabia o que fazer, tinha medo até de me mover, porém, ele leu meus pensamentos e fez tudo, por nós.
Me abraçou apertado e beijou suavemente meus lábios, ainda sorrindo se convidou para entrar.

- Desculpa o atraso, não consegui lugar no seu voo, meu pai precisou alugar um para que eu pudesse vir, não me perdoaria nunca se te perdesse.
-Mas..mas como...-ele me interrompeu sorrindo, segurando em minha mão e me puxando em sua direção.
-Consegui falar com sua mãe, expliquei tudo a ela, que me deu seu endereço aqui. Olha -disse enquanto acariciava delicadamente meu rosto- sei que isso parece prematuro, insanidade, ou qualquer coisa assim, mas sei que não é, sinto que estou no caminho certo, e arrisco todas as minhas fichas...
Ele tirou do bolso um pacotinho do bolso, onde tinham dois anelzinhos de madeira, ele riu e segurou minha mão.
-Sei que não é exatamente isso que uma mulher espera da vida, mas foi o melhor que eu consegui no caminho do aeroporto - olhou para o chão envergonhado- tava tudo fechado, comprei de um desses hippies...mas Sara...você quer ficar comigo por todos os dias da sua vida, ou até o mundo acabar?
Lagrimas brotaram dos meus olhos e um sorriso imenso surgiu nos meus lábios, o que dizer, além de sim, para aquele que você, ter sido feito para você. Abracei-o e beijei apaixonadamente, porém fomos interrompidos....

-Ai -levei as mãos a barriga, afastando-me dele;
-O que foi? Tá tudo bem?
-Nossa...ai...-outra pontada muito forte.
-Será que é a hora?
-Mas falta ainda umas duas semanas- outra pontada- aiiiiiiiii
-Melhor irmos ao hospital!

Enquanto Lucas procurava o telefone do táxi nas paginas amarelas, eu, amedrontada pegava minha mala do hospital, e em pouco tempo estávamos a caminho da maternidade, ele me envolvia, como se quisesse me proteger de toda aquela dor, e eu me agarrava a ele, como se fosse meu salvador.

Chegando lá, tudo ocorreu muito rápido, fui levada a sala de parte com 7 dedos de dilatação, e enquanto eu fazia força e morria de dor, pensava na solidão que era, estar ali, sozinha, tendo um filho sem pai, então Lucas adentrou a sala, com aquela roupa cirúrgica e mascara, o olhei intrigada e ele sorriu, chegando perto e sussurrando ao meu ouvido.

-Sou o pai, lembra?

Segurou em minha mão e permaneceu ali, junto de mim, até que o ouvimos o choro, era fraquinho, como um miado, a enfermeira o embrulhou em um lençol e o entregou a Lucas, que o olhava maravilhado.

-Você é lindo, carinha, o carinha mais lindo que eu já vi na minha vida. E desde já, vou te contar um segredo, eu amo a sua mãe, tá? E amo você também Alvinho.

Ele colocou meu pequeno em meus braços, eu não podia conter a emoção, meu filho era perfeito, lindo, o ser mais encantador que eu já tinha visto. A enfermeira voltou, pegando o bebê levando para todos os procedimentos necessários.

Lucas segurou me abraçou;

- Enquanto eu respirar, eu vou te amar!

Minhas lembranças foram interrompidas por um chamado no quarto, caminhei pesarosa até lá.
-Mãe, acho que a hora está chegando...- disse meu filho mais velho enquanto suas lagrimas rolavam por seu rosto.
Os outros estavam despedindo-se do pai, senti um bolo na gargante, algo que sei que jamais irá se desfazer, me aproximei da cama, onde estava o homem que eu amo desde o minuto em que o vi pela primeira vez, a quem amei por todos os segundos, que estava ao meu lado há 18 anos, que nunca havia me deixado, que se manteve ao meu lado nos momentos ruins e nos momentos bons, que admirava minhas qualidades e amava meu defeitos, o pai dos meus filhos, que foi pai, inclusive daquele em que seu sangue não corria nas veias.
O homem que me ensinou a viver, a amar, o homem, a quem eu agradeço por tudo que sou.
Nossos filhos deixaram o quarto, e deitei-me ao seu lado na cama, senti o quão difícil estava a dua respiração, ele estava fraco, nem todo dinheiro do mundo pode te ajudar quando chega a hora, e o câncer garantiu que o dele viesse muito cedo.
Beijei delicadamente os seus lábios, e deitei minha cabeça em seu peito, ouvindo seu coração bater, e eu o ouvi dizer, bem fraquinho, com muita dificuldade.

-Enquanto eu respirar e além...


domingo, 6 de janeiro de 2013

O professor

Mais uma vez toca o despertador do relógio, às cinco horas, como em todas as manhãs desde mil novecentos e oitenta e cinco, para ser preciso, desde onze de fevereiro de mil novecentos e oitenta e cinco, meu primeiro dia na faculdade, não tinha nem dezoito anos completos! Que ano!
Bem! Fazem vinte anos, que este relógio desperta todos os dias ao mesmo horário.
                                                                 
- Parabéns para ele! Está mais inteiro do que eu. Mas é claro, ele tem dezessete anos a menos.

Sabe o que é mais engraçado? Uma coisa que só serve para nos lembrar do tempo, aparentemente não é prejudicada por ele.

Idiotices à parte...Só vivo este dia uma vez por ano, deveria ser o dia mais esperado, mas é o dia em que eu mais luto contra. É um dia cheio de incertezas, todas as minhas inseguranças parecem vir à tona. Sim um homem crescido com quarenta e três anos, doutor em minha área, cheio de experiências, rugas, cabelos brancos, etc...

Tudo teoria!!!

Na pratica, não sou nada, não sei nada, me sinto tão jovem e idiota quanto esses adolescentes que hoje virão até mim para conquistar algum conhecimento. Eles terão em média 68 dias para isso, e com toda a minha experiência sei que não conseguiram nada, como eu não consegui!

- Droga! Já estou atrasado de novo, porque perdi tempo conversando com meu despertador.
- Hoje só vou dar bom dia para o chuveiro, senão não chego.

...

- Espelho, espelho meu, existe alguém mais... Mais o que? Mais bonito? É obvio... Mais jovem? Palhaçada... Mais velho? Graças a Deus...

Não sei quem é mais ingrato, o tempo, meu espelho ou meus olhos.

O tempo passa sem dó e nos muda sem ao menos perguntar se é necessário, sem perguntar se queremos outra cor de cabelos, pequenos e profundos vincos na pele encontrados na região do rosto, nos dão outro corpo, outra fisionomia, não nos permite ser quem sempre fomos.

Chronos é capaz de devorar seus filhos, mas não devora suas marcas.

                Bem todo espelho tem complexo de espelho mágico da Branca de Neve, todos mentem para não serem esmigalhados em um momento de fúria do seu senhor.
                Enfim os olhos, que só mostram aquilo que se quer ver, não a verdade. Todas as vezes que vejo meu reflexo enxergo um rosto que mais ninguém vê, os mais românticos diriam que “vejo com os olhos da alma!” Bobagem! Eu me vejo como gostaria de ser, me vejo quando a minha imagem causava prazer nas pessoas. Quando eu tinha mais atributos a serem elogiados do que depreciados.
                Vejo-me garotão, cheio de vida e às vezes penso de acordo com a imagem que tenho na cabeça, mas sempre aparece alguém que me faz ter ciência da minha idade, e todas as conseqüências físicas e psicológicas que ela nos trás.
...

                Uma vez entrei em uma página de internet que dava atestado de loucura para quem conversava com objetos.
                - Contando com você minha cara chave, já foram três em quarenta e cinco minutos.
Mas isso é típico de pessoas sozinhas! Bem, eu moro sozinho.
- Já estou justificando minhas loucuras! – tive um professor que dizia:

“Não justifique seus atos, eles perdem a força”
No entanto justificar faz parte de nós...
...

O trajeto sempre é de trinta minutos a partir da entrada do prédio, às vezes parecem eternos, principalmente no primeiro dia. Nunca se sabe o que vai acontecer, apesar de ter certeza de que nada vai acontecer!

Vejo os jovens apressados caminharem rumo àquilo que acham ser o primeiro dia do resto de suas vidas, os observo, e tento refazer em minha mente a minha euforia de primeiro dia de aula, não como o professor, mas como o aluno que fui um dia, chega a ser engraçado olhar nos olhos deles e ver uma esperança que eu tinha há trinta anos, a esperança de que esse ano vai ser diferente.

Os não populares acham que serão, os nerds que serão os queridinhos do professor, as bonitas que encontraram o homem de suas vidas, o bonitos que acharam a gostosa que vai transar sem querer compromisso, os feios que virarão cisnes, os espalhafatosos que terão platéia e os tímidos sonham simplesmente que terão voz!

O primeiro dia de aula para os alunos torna-se uma espécie de desfile de modas, de fofoquinhas e mentirinhas inocentes, que permitem que as férias de um não sejam menos importantes que as férias do outro.
Entre os professores a discussão é mais profunda, é o salário que não aumenta, os filhos que crescem os maridos que vão, as esposas que vem e assim vai...
Sempre tive aversão a sala dos professores, essas histórias de certa forma me incomodam, eu nunca entendi essa necessidade do ser humano de revelar aos outros aquilo que não lhes interessa, se a necessidade é de conversar encontre com aquele melhor amigo de infância, ou pague um psicólogo, mas alugar os ouvidos de um coitado só porque ele estava por acaso tomando o seu café para agüentar o sono nas primeiras aulas do dia depois de ter suportado três jornadas no dia anterior, já é demais! Muitos até dizem que sou o professor fantasma, pois é difícil alguém me encontrar andando a toa pela escola, eu prefiro mil vezes estar na sala de aula ouvindo as conversas estranhas e muitas vezes sem sentido, do que a vida frustrada da inspetora de aluno.
                                                                    
                                                                         (continua)