quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Pôr do sol

Sentado no sofá, ele observa apreensivo cada cada movimento dela, ela que é a verdadeira luz do sol, de uma alegria infinita, ela era o arco-iris que coloria a vida, ela que era de um tempo onde as pessoas era felizes, desprendidas, de um tempo onde a palavra de ordem era "vida"
Ele o total oposto, a figura sem cor, sem brilho, sem graça! ele era daqueles que tinham um vazio maior do que podia preencher, tinha angustias e medos que jamais compreendeu, quem dirá resolver!
Ele era de um tempo em que as pessoas eram tristes e confusas, de um tempo onde a palavra de ordem era "morte".
Ele sentia dentro de sua alma esburacada que o inevitável estava prestes a acontecer, ela estava distante, já não respondia da mesma forma ao seu amor, e quando insistia, ela era evasiva, mudava de assunto, ou simplesmente o deixava sem resposta.
Só não entendia qual era exatamente o motivo que a manteve ao seu lado por todo esse tempo.
Talvez ela pensasse que ele não suportaria, que cumprisse com a sentença de todos os garotos de sua geração, talvez ela apenas sentisse pena,talvez ela ainda tivesse algum afeto...
Mas aquele dia tudo começara diferente, ela levantou-se em silencio e permaneceu assim por muitas horas, sempre com o olhar perdido, sempre evitando sua companhia! Mesmo quando estavam juntos havia um abismo de silencio entre eles e por mais que ele estivesse ali, tão perto que podia se agarrar a ela, sentia que estavam a quilômetros de distancia um do outro, de alguma forma ela não estava mais ali!
E quem poderia culpa-la?
Ele mesmo não suportaria a convivência consigo, quem dirá outro ser!
Depois de inúmeras recaídas, medos e inseguranças ele havia conseguido colocar em pratica seu maior temor, sentia ela escapar por entre os seus dedos, e se sentia incapaz de segura-la, talvez por achar que ela ficaria muito melhor sem ele...
Mas sabia que perderia tudo naquela noite...
Ao entrar no quarto, observou tudo arrumado ao modo dela, bilhetinhos pendurados no espelho, fotos em velho mural, livros, cartas, discos, fitas, cd's, dvd's, revistas, pelucias, brincos, colares, aneis, batom, perfume, o quarto inteiro era ela!
Virando para deixar o cômodo notou uma mochila surrada no canto da porta, lembrou que tudo o que ela trouxe cabia ali dentro, sentiu como se seus órgãos vitais congelassem nesse instante!
Respirou fundo, caminhou pra sacada, ainda podia ver o por do sol e na pior das hipóteses, se tivesse tamanha coragem para um ato de covardia, pularia de lá!
Observou o por do sol de uma beleza unica, viu o céu mudar de cor, viu a primeira estrela apontar na imensidão, quando sentiu um toque em seu ombro, hesitou em virar, mas não podia mais evitar o confronto!
Ela parecia menor naquele momento!
Sorriu docemente:
- Você já sabe, né?
- Sim, sei!
- Sempre soubemos que isso aconteceria um dia!
- Sim...
- Ninguém teve culpa, tá?
- Eu sei...
- Você vai ficar bem?
- Sim...
- Você sabe onde me encontra?
- Eu sei...
- Se precisar de algo, ainda somos amigos!
- Sim, eu sei!
Ela tocou-lhe o rosto, que ele deu um jeito sutil de afastar da mão dela, ela suspirou, sorriu mais uma vez, mas dessa vez amargamente, virou-se pegou a mochila com seus pertences, acenou pra ele e saiu...
O som da porta batendo foi o gatilho pra explosão de um grito, preso por muito tempo, um urro seguido de um mar de lágrimas, suas pernas não tiveram forças para sustentá-lo, ele desabou.
Urrava como um animal ferido, tamanha a dor que sentia, arrancaram-lhe sua vida, essa não era uma ferida que cicatrizaria facilmente, na verdade, essa era uma ferida que jamais cicatrizaria!
Nunca se perdoaria por deixá-la partir, por ter ela nas mãos e deixar escorregar, queria agora poder dizer tudo o quer sentia de verdade, mas que um imenso nó na garganta o impedia.
Mas ela já não poderia ouvi-lo!
Apenas sussurrou para si mesmo.
- Você prometeu que era pra sempre...

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