segunda-feira, 10 de março de 2014

A Carta

Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2009

Perdoe-me se demorei tanto a lhe escrever, mas demorei consideravelmente a me recompor, sim, eu sei três anos pode parecer muito tempo, mas não dá para estimar um tempo de cura exato, para um coração partido.
Acredito que o que importa de verdade, é que aqui estou, disposto a escrever, e na melhor das hipóteses, receber de ti uma resposta, algo que nunca obtive.
Amanheci um dia sozinho, tendo por companhia uma carta, poucas linhas que tentavam explicar o porque do abandono...porque de estar quebrando todas as promessas que fizeste a mim, todas as juras de amor, sim, você nunca ousou chamá-lo eterno, claro que não, mas prometeu que estaria sempre perto, mesmo que apenas me observando.
Porém, fechaste os olhos primeiro, não quis ver a dor tamanha que me provocava, sei que não fui nem de longe o melhor, nem estive entre eles, só posso lhe garantir, que meu amor, era verdadeiro.
Talvez eu não estivesse pronto para ser amado, talvez eu desse mais valor ao amar, e fosse incapaz de ver o amor, talvez fosse por isso ,que tantas vezes, te cobrei por coisas que apenas existiram em minha cabeça.
Posso tê-la feito chorar, posso tê-la machucado, com palavras e atitudes, mas, eu não estava preparado para algo tão forte, tive medo, fui o mais humano que pude em nossa relação, não fingi, não menti, fui eu, e agora tenho a consciência de que eu, não era nada do que você precisava.
Você precisava de um homem ao seu lado, um homem forte, que conseguisse, segurá-la pelo braço e guiá-la, um companheiro, um amigo e eu fui apenas um peso, inseguro, medroso, muitas vezes eu até quis te mostrar tudo o que eu poderia ser, mas sempre tropeçava em meus próprios pés.
Não é fácil admitir um erro, de jeito nenhum, é bastante complicado saber que você pôs tudo a perder, que o fim iminente ocorreu por que você não soube conduzir a sua vida de forma satisfatória.
Senti muito quando rompeu todos os laços que nos uniam, sofri por não vê-la todos os dias, por não te ouvir, não receber seus recados na secretária...posso dizer que morri naquele momento, você partiu, e levou consigo a melhor parte de mim.
Na manhã seguinte, eu não me sentia vivo, tudo doía, meu corpo inteiro, como se eu tivesse sido esmagado, então percebi os sinais de que estava morto...nada mais me importava, eu respirava porque já era um habito, mas não sentia necessidade disso.
Sempre te disse que eu poderia viver sem ar, mas sem você, seria impossível, e naquela manhã, me vi obrigado a viver sem você, a seguir, dia após dia.
E a cada manhã tudo ia ficando mais difícil, a cada manhã, eu tinha mais motivos para deixar esse mundo, do que para ficar.

Sabe, eu conheci uma prostituta, sei que você deve estar com nojo de mim, mas eu a desejei tanto, que quase morri de verdade, ela, destruiu o pouco de bondade em mim que ainda restava...
Se você soubesse tudo o que fiz nesse ano, você certamente me odiaria, talvez você ficasse com um pouco de remorso...talvez você, por dó, voltasse pra mim...

Mas você não me viu, ou fingiu que não...eu te liguei, deixei mensagens aos prantos, não me orgulho disso, mas posso dizer que foi um estagio pelo qual eu precisava passar.
Eu dormi sentado em frente a sua casa uma porção de noites, observando seu vulto pela janela...
Vi quando ele entrou em sua vida, vi quando ele passou a ser tudo o que eu jamais poderia ser.

Mais um ano se passou, e eu cansei de ficar no chão, me levantei devagar, milimetro por milimetro, para alguns, foi até imperceptível, cada movimento que eu fazia para superar a sua ausência...
Parei de te procurar, de tentar ouvir seu nome, de te ver, parei de pensar em você, no começo foi difícil, mas eu me cerifiquei de que preencheria minha vida de tal forma que não sobrasse espaço pra você.

Hoje três anos depois que você me deixou, existe alguém que me fez ver o quanto eu errei, e foi esse reconhecimento, que me permitiu te escrever, que me permitiu entender tudo, você quis viver, talvez estivesse se sentindo como eu estava quando decidi me levantar, e deve ser muito pior quando é você quem parte, porque você sempre leva a culpa, sempre é visto como vilão, de um crime que nem cometeu.

Te peço perdão por ter feito isso a você, por ter sido incapaz de ver sua dor, sua tristeza, sua solidão, por ter te sufocado com o meu excesso de amor, com meu medo, meu ciume, me perdoe por tudo.

Espero que esteja feliz, eu estou!

Alberto

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Baile de máscaras

-Oi!

Disse ele, aproximando-se da moça, já a observara por bastante tempo e sabia que esse era o momento propicio para uma ligeira apresentação.

-Oi!

Retribuiu ela um tanto encabulada.

-Eu estava te observando, tem um tempo, mas não tava conseguindo chegar...
-Vai me dizer que é tímido?
-Ué, sou!
-Não foi o que eu tenho visto...
-Hmmm você também tava me olhando.
-O lugar não está cheio, da ver o que todo mundo faz, acho que não são muitos os que preferem uma folia mais reservada.
-Pelo contrario, acho até que somos muitos, mas também esse não é o único lugar pra se ir...
-E você? Vem sempre aqui?
-Sério? Essa pergunta? -começa a rir.
-Ué, qual o problema, é apenas uma curiosidade, não é uma cantada, apenas uma pergunta!
-Venho sempre que posso, não sou muito de multidões, quanto mais reservado o lugar, mais atrativo ele se torna para mim, um amigo me trouxe, há uns três anos, e daí por diante, passei a ser frequentador assíduo. E você? É a primeira vez?
- Na verdade não, é a mascara que me faz diferente, quer que eu tire pra ver se você me reconhece?
-Ah não, é carnaval, a parte legal disso é não saber quem está por trás da máscara e assim se soltar, poder ser quem você quer ser.
-E quem você quer ser?
-Exatamente quem estou sendo agora! Estou certo que se me visse na rua, nem sequer me reconheceria, nem mesmo se eu fosse falar com você!
-Nossa, do jeito que fala, me deixou até com medo, o que tem debaixo dessa máscara aí. - perguntou ressabiada.
-Alguém comum, alguém que certamente você não estaria observando, alguém que talvez ninguém observasse...
-Credo, que amargura!
-Viu, melhor estar de máscara e ser o que eu quero ser!
-Ta certo, então espero que divirta-se!
-Ei...você já vai?
-Sei lá, sou meio contra isso de ser outra pessoa só porque está com máscara, o problema sou eu, não você!
-Ah, sério? Você é mesmo a rainha dos clichês!
-Gente, pelo menos sou o que sou.
-E daí querer ser um pouco diferente as vezes, é crime?
-Não amigo, mas ninguém é obrigado a conviver com isso.
-Jesus, mas quem ta de obrigando a conviver, é só um conversa, não um pedido de casamento, você tem algo mais importante pra fazer, ou alguém melhor pra conversar, se tiver, ta beleza, vai, mas se não, porque não fica aqui comigo, não vou te arrancar um pedaço.
-Vou buscar algo pra beber, essa conversa me deu sede!
-Eu te espero.

Buscou um copo gelado de suco, bebeu quase que de uma só vez, talvez esperasse de um simples suco de uva o afeito que uma dose que Whisky provoca em seus consumidores, mas sabia que não obteria tal efeito, pensou algumas vezes antes de voltar.
Realmente aquela era apenas uma conversa, nada além disso, o que teria a perder com um pouco de companhia, pelo contrario, poderia dar umas boas risadas.

-Você voltou.
-E você me esperou mesmo, deve estar mesmo solitário.
-Na verdade não, estou aqui com você por opção, gostei de você.
-Gostou da garota chata que até agora só disse clichês e quis ficar longe de você?
-Você foi espontânea, foi natural, e é bom encontrar pessoas assim.
-Quem bom que você reconhece, que estar ao lado de alguém que não quer ser ele mesmo, não é algo lá muito agradável.
-Mas você voltou.
-É, eu voltei!
-Por que você voltou?
-Porque você foi sincero, sei que não devo acreditar em nada que você disser.
-Porque não estou sendo eu? Estou falando de comportamento, porque eu mentiria sobre as coisas, aqui eu posso rir, conversar, flertar, sem ser julgado, lá fora nem olhar para o lado eu posso sem que alguém julgue minhas ações.
-Isso é verdade, mas se você se importar sempre com o que vão dizer, você não vai viver, nunca!
-É uma sobrevida, mas é um preço, cada escolha, uma consequência, eu fiz as minhas, e hoje preciso de uma máscara para me divertir, ou ter ao menos uma conversa com uma garota legal.
-Obrigada pelo, "garota legal"
-Ah, você achou que eu tava falando de você?
-...
-Brincadeira, tava sim! Ei, eu preciso ir, adorei falar com você, mas tenho um compromisso, eu gostaria de te ver de novo, vai vir amanhã?
-Eu gostaria de te ver sem máscara...
-Eu não sei se isso é possível...ah quer saber, anota meu número, me liga e vemos isso!
-Sério?
-Sério!
-Agora preciso desconectar.
-Ta certo, te ligo!
-bjs
-bjs

Ela deu um sorriso bobo, largou o notebook e correu para o celular, queria ouvir a voz dele, queria saber um pouco mais sobre ele, mas ele de verdade, não um avatar.
Digitou o número, o coração ao pulos...
-Alô -disse com a voz fraca.

-Esse número de telefone não existe, por favor consultar o catalogo telefônico.