terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Baile de máscaras

-Oi!

Disse ele, aproximando-se da moça, já a observara por bastante tempo e sabia que esse era o momento propicio para uma ligeira apresentação.

-Oi!

Retribuiu ela um tanto encabulada.

-Eu estava te observando, tem um tempo, mas não tava conseguindo chegar...
-Vai me dizer que é tímido?
-Ué, sou!
-Não foi o que eu tenho visto...
-Hmmm você também tava me olhando.
-O lugar não está cheio, da ver o que todo mundo faz, acho que não são muitos os que preferem uma folia mais reservada.
-Pelo contrario, acho até que somos muitos, mas também esse não é o único lugar pra se ir...
-E você? Vem sempre aqui?
-Sério? Essa pergunta? -começa a rir.
-Ué, qual o problema, é apenas uma curiosidade, não é uma cantada, apenas uma pergunta!
-Venho sempre que posso, não sou muito de multidões, quanto mais reservado o lugar, mais atrativo ele se torna para mim, um amigo me trouxe, há uns três anos, e daí por diante, passei a ser frequentador assíduo. E você? É a primeira vez?
- Na verdade não, é a mascara que me faz diferente, quer que eu tire pra ver se você me reconhece?
-Ah não, é carnaval, a parte legal disso é não saber quem está por trás da máscara e assim se soltar, poder ser quem você quer ser.
-E quem você quer ser?
-Exatamente quem estou sendo agora! Estou certo que se me visse na rua, nem sequer me reconheceria, nem mesmo se eu fosse falar com você!
-Nossa, do jeito que fala, me deixou até com medo, o que tem debaixo dessa máscara aí. - perguntou ressabiada.
-Alguém comum, alguém que certamente você não estaria observando, alguém que talvez ninguém observasse...
-Credo, que amargura!
-Viu, melhor estar de máscara e ser o que eu quero ser!
-Ta certo, então espero que divirta-se!
-Ei...você já vai?
-Sei lá, sou meio contra isso de ser outra pessoa só porque está com máscara, o problema sou eu, não você!
-Ah, sério? Você é mesmo a rainha dos clichês!
-Gente, pelo menos sou o que sou.
-E daí querer ser um pouco diferente as vezes, é crime?
-Não amigo, mas ninguém é obrigado a conviver com isso.
-Jesus, mas quem ta de obrigando a conviver, é só um conversa, não um pedido de casamento, você tem algo mais importante pra fazer, ou alguém melhor pra conversar, se tiver, ta beleza, vai, mas se não, porque não fica aqui comigo, não vou te arrancar um pedaço.
-Vou buscar algo pra beber, essa conversa me deu sede!
-Eu te espero.

Buscou um copo gelado de suco, bebeu quase que de uma só vez, talvez esperasse de um simples suco de uva o afeito que uma dose que Whisky provoca em seus consumidores, mas sabia que não obteria tal efeito, pensou algumas vezes antes de voltar.
Realmente aquela era apenas uma conversa, nada além disso, o que teria a perder com um pouco de companhia, pelo contrario, poderia dar umas boas risadas.

-Você voltou.
-E você me esperou mesmo, deve estar mesmo solitário.
-Na verdade não, estou aqui com você por opção, gostei de você.
-Gostou da garota chata que até agora só disse clichês e quis ficar longe de você?
-Você foi espontânea, foi natural, e é bom encontrar pessoas assim.
-Quem bom que você reconhece, que estar ao lado de alguém que não quer ser ele mesmo, não é algo lá muito agradável.
-Mas você voltou.
-É, eu voltei!
-Por que você voltou?
-Porque você foi sincero, sei que não devo acreditar em nada que você disser.
-Porque não estou sendo eu? Estou falando de comportamento, porque eu mentiria sobre as coisas, aqui eu posso rir, conversar, flertar, sem ser julgado, lá fora nem olhar para o lado eu posso sem que alguém julgue minhas ações.
-Isso é verdade, mas se você se importar sempre com o que vão dizer, você não vai viver, nunca!
-É uma sobrevida, mas é um preço, cada escolha, uma consequência, eu fiz as minhas, e hoje preciso de uma máscara para me divertir, ou ter ao menos uma conversa com uma garota legal.
-Obrigada pelo, "garota legal"
-Ah, você achou que eu tava falando de você?
-...
-Brincadeira, tava sim! Ei, eu preciso ir, adorei falar com você, mas tenho um compromisso, eu gostaria de te ver de novo, vai vir amanhã?
-Eu gostaria de te ver sem máscara...
-Eu não sei se isso é possível...ah quer saber, anota meu número, me liga e vemos isso!
-Sério?
-Sério!
-Agora preciso desconectar.
-Ta certo, te ligo!
-bjs
-bjs

Ela deu um sorriso bobo, largou o notebook e correu para o celular, queria ouvir a voz dele, queria saber um pouco mais sobre ele, mas ele de verdade, não um avatar.
Digitou o número, o coração ao pulos...
-Alô -disse com a voz fraca.

-Esse número de telefone não existe, por favor consultar o catalogo telefônico.


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