segunda-feira, 9 de maio de 2011

O escritor

Sentou-se frente ao seu computador, repousou suavemente as mãos sobre o teclado, enquanto aguardava a inicialização do sistema. Era a primeira vez que escrevia algo novo, em anos, mas as idéias fervilhavam em sua cabeça, histórias e mais histórias, conseguia inclusive ouvir seus personagens dialogando, conversa eram uma mais interessante que outra, e passava horas prestando atenção a elas!
Há tempos ele não os ouvia, estava ocupado demais para escutar, porém, dessa vez, era impossível manter-se apático a tamanha gritaria!
Decidiu deixar que seus companheiros de dias silenciosos, lhe contassem tudo pelo que tinham passado nesses ultimo tempos.
O resultado, era que ele passava mais tempo calado, introspectivo, dando total atenção àqueles que, todos em sua infância, chamavam de amigos imaginários.Um som chamou sua atenção para o computador, o sistema havia enfim iniciado! Delicadamente tocou um pequeno painel e deu inicio ao programa que lhe permitia transcrever as suas histórias.
Lembrou-se, de um tempo, o qual, nada daquilo era acessível a ele, nem mesmo tinha maquina de escrever, todas as suas idéias eram transcritas com papel e lápis! Quantas vezes perdeu uma boa história por não possuir uma caneta naquele minuto, afinal os momentos passam até mesmo quando acontecem apenas na cabeça de alguém, era o mesmo que se lembrar de uma cena vista no decorrer da vida, sempre perde-se algum detalhe!
Lembrou-se também de todas as histórias que escreveu em espaços vazios de jornais, versos de panfletos, e até mesmo papel de pão!Era até divertido ficar virando e revirando o papel para entender o sentido do texto.
Até que alguém sugeriu um gravador, mas não deu muito certo, pois o som de sua voz calava as vozes que conversavam em sua cabeça. Decidiu comprar um bloco de anotações, assim ficaria mais fácil, podia ouvir e escrever suas histórias em qualquer lugar, a qualquer momento!
E tudo corria bem, até que os sons externos ficaram mais altos que os internos, e ele passou a ter muita dificuldade para ouvi-los, precisava redobrar a atenção e mesmo assim, perdia muita coisa...
A medida que os sons diminuam, parou de tentar ouvi-los. Então percebeu que já não existiam! Só não sabia se tinham parado de falar, ou ele não os escutava mais...
As vezes ficava em silencio quase que absoluto, na esperança de ouvir um sussurro...era em vão.
E ele finalmente se deu por vencido, desistiu!

- Já que não querem falar, também não quero mais ouvir! - pensou revoltado!

Assim seguiu sozinho, por anos... até esse dia...
Dia em que ouviu um pequeno assovio, barulho de passos, um comprimento, ele parou tudo o que fazia para ouvir! Não sabia o que tinha feito, mas eles haviam voltado, estavam lá, e não paravam de falar, tinham muito, muito a contar ao seu velho amigo, que agora os ouvia atentamente!


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