domingo, 5 de junho de 2011

O Vampiro

Tinha a mesa cheia de recortes e fotografias, conseguira bastante material, aquele dia tinha sido realmente produtivo.
Buscou uma fotografia embaixo de alguns papeis, ela sorria, perdeu as contas de quantas vezes imaginou que aquele sorriso era dado somente à ele.
Já havia encontrado padrão para alguns dias, mas isso não era o suficiente, não podia se aproximar, enquanto não mapeasse toda a sua rotina, precisava conhecer todos os seus hábitos e por que não dizer, que precisava pensar como ela!
Tirou os óculos esfregando os olhos cansados, tinha apenas algumas horas para dormir, o dia dela começava cedo.
Lembrou-se da primeira vez que a viu:
Era madrugada, ele acabara de sair do hotel onde deixara sua ultima presa, ela saia de uma casa noturna, seus olhos se cruzaram por uma fração de segundo.
naquele instante ele sentiu seu corpo em chamas:

- É ela!

Sim ela tinha que ser a próxima!
Pegou seu carro e deu a sorte de encontra-la por perto. Dai por diante apenas colocou em pratica o que sabia fazer muito bem!
Primeiro passo, verificar se ela possuía algumas familia próxima, e mais uma vez para sua sorte, ela vivia com alguns amigos de faculdade em um apartamento na Bela Vista.

- Sem regras, sem perigo!

Começou a segui-la na manhã de segunda feira, sua rotina matinal e vespertina, eram bem simples:
Tomava café em uma padaria próxima a faculdade, por volta das 7:30h e entrava para a aula as 8:00h, às segundas e quartas ela saia dos campus por volta de 10:30h tomava um mate e voltava as 10:45h, geralmente acompanhada de uma jovem de cabelos curtos. Nos demais dias, ela deixava o campus somente as 12:00h, para em um restaurante com um pequeno grupo de amigos, ficava lá até 12:20h, depois seguia sozinha a pé para um prédio na Praça da República, cada dia da semana escolhia um caminho, mas sempre eram os mesmos toda semana! saía do grande prédio espelhado em torno de 20:10h a aí começavam os problemas, ela nunca fazia a mesma coisa, dia voltava pra casa, outro ia pro bar, cinema, teatro, shopping, casa noturna, ou apenas ficava na praça com um grupo de pessoas, mas não existia um padrão!
Isso começava a ser enlouquecedor, quando achava que sabia tudo o que precisava, ela apresentava um novo elemento.
Chegou a passar um sábado inteiro numa gibiteca observando-a, anotando o título de cada revista que passava por sua mão, e um domingo fazendo um circuito verde, seguindo-a por quase todos os parques e praças de São Paulo!
Algumas vezes perguntou-se se ela realmente valeria a pena? Se o seu sabor seria melhor que o das outras e sempre terminava concluindo, que ela era a melhor! Isso o deixava ainda mais ansioso para a caçada!

Enfim dera a pesquisa por terminada, estava satisfeito com o que tinha e aquela seria a ultima noite e tocaia.
depois de muitas horas na danceteria, ela finalmente entrou no táxi, seguia-a de perto com seu carro, queria ter certeza de que seu destino final seria o pequeno apartamento na Bela Vista.

-Bingo!

Exatamente como fez as noites de sexta nas duas ultimas semanas.
Desceu do carro para melhor ver a janela do quanto dela, que agora estava acesa. Tirou do bolso interno da jaqueta uma carteira de cigarros, puxou um com as pontas dos dedos,levou-o aos lábios e o acendeu, tragou e soltou a fumaça lentamente, tinha os olhos fixos na janela iluminada, podia passar horas ali apenas observando cada sombra.
A luz se apagou imediato ao fim do cigarro, ele sorriu atirou bituca na rua, lançou um ultimo olhar ao quarto:

- Boa Noite, meu anjo, nos vemos amanhã!

Adentrou o carro e dirigiu até sua casa, que ficava a alguns quilômetros dali, parou o carro frente a portaria de um prédio antigo, acenou com a cabeça para o porteiro que retribuiu o gesto dando-lhe "boa noite"!
Parou o carro em sua vaga no estacionamento subsolo do prédio, um lugar escuro, sombrio, até mesmo fétido, caminhou sem pressa até o velho elevador, abriu a pesada porta de madeira, apertou o botão, sétimo andar!
Frente a porta do apartamento, tirou as chaves do bolso, colocou-a na fechadura enferrujada, girou a maçaneta, a porta abriu rangendo, ele riu...

- Mais um clichê de filme de terror, agora só falta o gato sair do armário miando!

Abriu a geladeira, pegou uma cerveja, depois de uma demorado gole, foi para a mesa onde passaria a noite, revendo cada detalhe, não poderia falhar, essa, como em todas as outras, a oportunidade era única, nunca tinha uma segunda, uma vez revelado, ele precisava ir até o fim!
Viu o sol nascer por entre os prédios, levantou, era hora de finalmente dar continuidade a seu trabalho!
Frente ao espelho, mais uma vez!
Passou os dedos pelos cabelos molhados jogando-os para traz, a barba por fazer, óculos, jeans desbotado e rasgado, jaqueta de couro e pra finalizar, o crucifixo no peito!
Não que acreditasse no símbolo, muito pelo contrario, aquilo não lhe dizia absolutamente nada, mas a peça ajudava a compor o visual e em um tempo onde uma imagens vale mais que mil palavras, qualquer detalhe faz a diferença...
Caminhou até o carro, desarmou o alarme, abriu a porta, sentou-se, respirou fundo, girou a chave no contato...

- Pronta ou não, aí vou eu!!!

(...continua...)

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